Bolsista: Camila Fortunato Costa
Orientador(a): Rita de Cássia Moreira de Souza
Resumo: A doença de Chagas (DCh) representa um grave problema de saúde pública no Brasil. A importância dessa enfermidade deve-se à sua elevada prevalência, ampla distribuição geográfica e impacto social das formas clínicas da doença sobre os portadores. O agente etiológico desta enfermidade é o protozoário flagelado Trypanosoma cruzi. A forma mais importante de transmissão deste parasito aos seres humanos é através das fezes de triatomíneos infectados.
Para o controle das populações domésticas de triatomíneos são recomendadas borrifações sistemáticas utilizando inseticidas de ação residual. Embora este mecanismo tenha alcançado sucesso satisfatório, principalmente com espécies introduzidas como o Triatoma infestans, vetores autóctones exigem constante vigilância contra a instalação de novos focos, pois a recolonização dos domicílios é precoce, sendo determinante nesse processo o peridomicílio.
No primeiro inquérito epidemiológico nacional o município de Espinosa (MG) apresentou alto índice de prevalência da infecção humana (22,2%). Ademais, dados da Secretaria Estadual de Saúde para o período de 1996-2015, mostram que mais de 12.000 espécimes de triatomíneos foram capturados neste município, sendo Triatoma sordida o vetor mais capturado.
Este triatomíneo possui habitat predominantemente peridomiciliar e vive em estreita associação com galinhas. Gambás e roedores são hospedeiros de reconhecida importância como fonte de infecção por tripanosomatídeos, e podem funcionar como elo entre os ciclos silvestre e doméstico do parasito. Vale ressaltar que o controle químico não é totalmente eficaz para eliminar esta espécie do ambiente peridomiciliar, em função da complexidade que representam os ecótopos neste ambiente, além da transitoriedade da ação residual. Estes fatores não só favorecem o processo de reinfestação, bem como o estabelecimento de populações resistentes ao inseticida utilizado pelo programa de controle.
Neste contexto, a vigilância entomológica, no âmbito do monitoramento sistemático da distribuição espacial de populações de vetores, com verificação dos indicadores entomológicos, e o monitoramento da resistência das populações avaliadas são essenciais para predizer potenciais riscos de novos casos de transmissão, fornecendo informações que possam subsidiar o controle dessa espécie na região. Assim, o objetivo deste trabalho é avaliar a infestação domiciliar (intra e peridomicílio) pelo T. sordida em localidades do município de Espinosa.
Para isso, a pesquisa triatomínica foi realizada nas unidades domiciliares de cinco localidades rurais: São Pedro (SP), Barro vermelho (BV), Curral Velho (CV), Coelheiro (CO) e Sítio do Limoeiro (SL). Os triatomíneos capturados (N=1862) foram identificados como T. sordida, separados por estádio de desenvolvimento e examinados ao microscópio, dos quais 56/1342 foram positivos para T. cruzi.
As informações da captura foram utilizadas para a elaboração de indicadores entomológicos essenciais para o monitoramento do risco de transmissão vetorial da DCh. O maior índice de infestação foi constatado no SL (71,9%), seguido por CV (52,6%), CO (50%), BV (44,4%) e SP (42,8%). Entre os triatomíneos coletados 85 (4,6%) foram encontrados no intradomicílio (incluindo ninfas) e 1.777 (95,4%) no peridomicílio. O cálculo do índice de colonização peridomiciliar correspondeu a 91,3%. Considerando cada localidade, SL apresentou 100% de colonização, seguido por CV (95%), SP (96,5%), BV (83,3%) e CO (71,4%).
Dos exemplares coletados no peridomicílio, 1.4496 (84,2%) infestavam galinheiros, 107 (6%) em chiqueiro de porcos, seis (0,3%) em curral de bovinos e equinos, quatro (0,2%) em depósito, 41 (2,3%) em amontoados de telhas e 75 (4,2%) de lenhas, 28 (1,6%) em fogão a lenha e 20 em outras estruturas.
Finalmente, os resultados para as populações testadas quanto a suscetibilidade/resistência dos triatomíneos aos inseticidas apresentaram uma mortalidade média de 46,7 a 76,7%. A razão de resistência (RR)50 de cada população foi calculada comparando a DL50 da população estudada com a DL50 da linhagem de resistência (LRS), sendo classificadas seguindo os critérios de interpretação da RR estabelecidos pela OPAS (2005): populações com RR < 5 não representam resistência ao inseticida analisado; RR ? 5 e < 20 são consideradas populações com resistência incipiente. Assim, as populações de Espinosa-MG testadas comparativamente com a LRS, apresentaram RR50 entre 5,4 a 7,5, conformando populações resistentes.