Revista Eletrônica do Programa de Bolsas - Edição 1

Revista: Edição 1 | Ano: 2023 | Corpo Editorial: Editorial
IDENTIFICAÇÃO E GENOTIPAGEM DE LEGIONELLA PNEUMOPHILA PROVENIENTE DAS REDES DE ABASTECIMENTO HOSPITALAR NO RIO DE JANEIRO.
Bolsista: GABRIELLA ALVES DE CERQUEIRA
Orientador(a): PHILIP NOEL SUFFYS
Resumo: Legionella pneumophila é uma bactéria aeróbia, gram-negativa, fastidiosa, formadora de biofilmes que é encontrada em ambientes aquáticos naturais, como lagos e rios, ou ambientes artificias, como redes de abastecimento e distribuição de água. Essa bactéria está essencialmente associada a duas doenças: Doença dos Legionários (DL), uma pneumonia que pode ser fatal em até 40% dos casos, e a Febre de Pontiac, um resfriado autolimitado. A contaminação ocorre pela inalação de gotículas contaminadas, portanto, é imprescindível a vigilância e a manutenção da qualidade de água dos sistemas artificiais, especialmente nos hospitais devido a exposição de pessoas imunossuprimidas. O método padrão e internacionalmente difundido para a identificação de Legionella spp. presente na água é a partir do isolamento em meio de cultura específico (ISO 11371), enquanto a técnica de genotipagem padrão é a Sequence-based Typing (SBT) que utiliza sete alelos para identificar a Sequence Type (ST) de cada isolado. Assim, este projeto tem como objetivo analisar a presença de Legionella spp. em amostras de água com foco nas amostras provenientes das redes de abastecimento hospitalar, para realizar a identificação da espécie L. pneumophila através do gene mip (macrophage infectivity potentiator) bem como o perfil molecular dos isolados através da técnica SBT. Métodos: serão coletadas amostras de água de grandes edifícios e também do sistema de abastecimento de água de hospitais com colaborações pré-estabelecidas. As amostras serão inoculadas em meio BCYE e incubadas a 35º C em ambiente rico em CO2 para averiguar a presença de Legionella spp. As culturas positivas serão submetidas a extração de DNA seguida pela PCR para identificação da espécie L. pneumophila. Por fim, os isolados de L. pneumophila serão processados de acordo com a técnica SBT para a identificação do perfil molecular das cepas.
CONVERSANDO SOBRE SAÚDE E SEXUALIDADE um estudo com adolescentes e jovens no Piauí numa perspectiva interseccional
Bolsista: MARIA LAURA MENDES DOS SANTOS LEAL
Orientador(a): ELAINE FERREIRA DO NASCIMENTO
Resumo: A sexualidade ainda se constitui em uma interdição, assim conversar sobre sexo e sexualidade na adolescência é fundamental, uma vez que é o período ou fase em que a atividade sexual se inicia. No entanto, é uma prática que vem culturalmente se iniciando de forma cada vez mais precoce no Brasil, e que embora seja prazeroso e de natureza própria dos seres vivos, o ato sexual requer atenção e cuidados, pois vários fatores podem influenciar de modo adverso na saúde física e reprodutiva dos adolescentes e jovens. Objetivo: Analisar o conhecimento de adolescentes e jovens sobre questões relacionadas ao sexo, com o intuito de investigar os seus comportamentos referentes às temáticas Sexualidades, Aborto, Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), Métodos Contraceptivos, Gravidez não Planejada, Orientação Sexual, Conversas sobre Sexo e Sexualidade, Gênero e Violência nas relações afetivo sexuais. Metodologia: O tipo de estudo foi descritivo, exploratório e interpretativo, com abordagem qualitativa com 30 alunos do Centro Estadual de Educação Profissional José Pacífico de Moura Neto, em Teresina, PI, com faixa etária compreendida entre 14 e 24 anos de idade, no período de agosto de 2020 a maio de 2021. Os dados foram coletados por meio das técnicas de grupo focal e entrevistas semiestruturadas abordando questões relacionadas a conversas sobre sexo e sexualidade. Resultados esperados: Espera-se, com os dados obtidos, caracterizar o perfil sociodemográfico dos adolescentes e jovens pesquisados, identificando o nível de conhecimento sobre temas relacionados à sexualidade e gênero com destaque para a conversa como uma estratégia de socialização e sociabilidade sexual e o papel da escola na geração da informação e da sua qualidade.
Análise temporal e de fatores sociodemográficos da mortalidade por neoplasias da população idosa no Brasil
Bolsista: FELIPE CARNEIRO DE SOUZA
Orientador(a): CLEBER NASCIMENTO DO CARMO
Resumo: O envelhecimento populacional tem ocorrido de maneira acelerada, sobretudo nos países em desenvolvimento. E com esse processo de mudança do perfil demográfico surge um grande desafio para esses países, pois precisam inserir o tema do envelhecimento populacional na formulação de políticas públicas e o planejamento de soluções de reorganização social e de saúde suficientes para atender as necessidades dessa nova realidade. Em paralelo ao processo de transição demográfica, o padrão de adoecimento e morte da população também vem sendo alterado. O perfil epidemiológico, resultado de uma série complexa de mudanças inter-relacionadas no comportamento de saúde e doença que ocorrem nas populações ao longo do tempo, são repercussões de um conjunto de transformações sociais, econômicas e principalmente demográficas Indivíduos e grupos sociais apresentam variabilidade quanto a muitas características entre si, o que não implica, necessariamente, em desigualdades nos processos de saúde e doença. As desigualdades referem-se às diferenças perceptíveis e mensuráveis nas condições de saúde ou no acesso aos cuidados em saúde. Quando consideradas injustas ou decorrentes de alguma forma de injustiça, são então denominadas iniquidades (Barata, 2012). As desigualdades são um fenômeno global e podem estar presentes entre os diversos países e mesmo dentro dos países, abrangendo dimensões culturais, sociais e econômicas, apresentando diferenciações nos acessos à informação, saúde e possibilidades de práticas preventivas de doenças e agravos (Barreto, 2017). O câncer é uma doença multicausal e sua relação com o envelhecimento populacional é conhecida (Pilleron et al., 2019). Globalmente, as transições demográfica e epidemiológica sinalizam para a importância crescente do câncer nas próximas décadas. Tendo em vista que o processo de adoecimento apresenta diferenciações, sejam individuais e contextuais, é relevante que as análises sejam baseadas no conhecimento teórico acerca das desigualdades em saúde. Analisar os determinantes sociais que perpassam os óbitos por neoplasias em idosos e fatores sociodemográficos associados possibilitaria analisar os contextos de vulnerabilidade aos quais estão expostos. O presente estudo irá caracterizar o perfil de mortalidade por neoplasias da população idosa do Brasil, seus fatores contextuais associados e acompanhar mudanças no padrão epidemiológico no período de 2011 a 2020 em indivíduos com idade de 60 anos ou mais. Trata-se de um estudo ecológico, de caráter descritivo e analítico, a partir de dados secundários de mortalidade da população idosa, no período de 2011 a 2020. A unidade de análise espacial será representada pelas Unidades da Federação e os anos do período do estudo, a unidade temporal considerada. São elegíveis para este estudo todos os indivíduos de 60 anos ou mais. A fonte de dados será o Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM/SUS), a partir das declarações de óbitos. Além disso, usaremos dados de população obtidos a partir de consulta às bases de dados do censo demográfico, projeções e estimativas demográficas do IBGE para o período de estudo. Variáveis contextuais serão obtidas a partir de dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e do Ministério da Saúde. Como variáveis de contexto, pretendemos considerar: Índice de Desenvolvimento Humano Municipal; Índice de Gini; Índice de Vulnerabilidade Social e Taxa de analfabetismo. Utilizaremos os valores mais recentes disponíveis, considerando os anos do período do estudo, sendo dados de 2017 referentes à Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) para o IDH-M, Índice de Gini e taxa de analfabetismo, e dados referentes a 2019 para o Índice de Vulnerabilidade Social. Para o cálculo das taxas de mortalidade, utilizaremos os números de óbitos disponíveis no SIM e os dados populacionais pelo censo demográfico de 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para análise dos dados, teremos como variáveis desfechos, as taxas de mortalidade pelas diferentes neoplasias da população idosa residente nas UF do Brasil. Inicialmente, faremos uma análise descritiva das variáveis do estudo, por meio da obtenção de medidas sumárias e visualizações gráficas, a fim de organizar e descrever características do conjunto de dados. Para as variáveis categóricas calcularemos as frequências absolutas e relativas; para os indicadores contextuais obteremos os valores mínimo, máximo, primeiro e terceiro quartis, mediana, média e desvio padrão. Para estimar a evolução da série temporal, utilizaremos modelos de regressão linear generalizada de Prais-Winsten, relacionando as taxas de mortalidade (Y) com o tempo em anos (X). Para essas análises, a variável tempo (em anos) será centralizada para evitar autocorrelação dos dados, por serem ordenados. Para cada modelo analisado o valor do coeficiente de determinação dado pela estatística R-square (R²) e o nível de significância estatística serão consultados (Antunes; Cardoso, 2015). Por fim, realizaremos uma análise de cluster dos dados estaduais de mortalidade. O objetivo é identificar padrões geográficos e demográficos dos dados de mortalidade em idosos e contribuir para a formulação de políticas públicas mais eficientes e direcionadas para essa população. Para as análises do estudo serão considerados: nível de significância estatística de 5% e utilizado apoio computacional do software Microsoft Excel para tabulações e cálculos; software R versão 4.2.3 para estimação dos modelos de regressão. Como se trata de dados secundários de domínio público, a análise e aprovação de comitê de ética são dispensadas.
Caracterização funcional da enzima modificadora de histona Lisina Demetilase 1 (SmLSD1) em esquistossômulos de Schistosoma mansoni e padronização de anticorpos para realização de ChIP-seq
Bolsista: RAWANE BORGES LOPES
Orientador(a): Sandra Grossi Gava
Resumo: A esquistossomose é uma doença endêmica negligenciada causada pelo parasito Schistosoma mansoni e que representa grande problema de saúde pública. A ineficácia dos programas de controle em áreas de baixa prevalência e a ausência de medicamentos alternativos de alta eficácia tornam imprescindível o desenvolvimento de uma nova droga anti-Schistosoma. Dada a complexidade do ciclo de vida do parasito, apresentando fases de vida livre e parasitárias, ocorrem importantes adaptações na biologia promovendo encontro e reconhecimento dos hospedeiros, e interações necessárias para o estabelecimento da infecção. Estas adaptações são coordenadas por regulação na expressão gênica incluindo regulações pós-transcricionais, sendo essas exemplificadas por modificações epigenéticas, podendo levar ao aumento de variabilidade fenotípica e influenciar no estabelecimento da doença. Modificações epigenéticas se dão por meio de metilação do DNA e RNA, alterações nas proteínas histonas que compactam o DNA e/ou mediação por RNAs não-codificantes. Enzimas modificadoras de histonas (HMEs) são responsáveis por executar alterações nas histonas de modo a causarem mudança na expressão do epigenótipo. Estudos do grupo de pesquisa em Helmintologia e Malacologia Médica (HMM) demonstraram que inibidores da enzima Lisina Demetilase 1 (SmLSD1) impedem a motilidade, suprimem a produção de ovos e afetam o tegumento e estruturas de organelas celulares de S. mansoni, culminando com a morte de esquistossômulos e vermes adultos. Além disso, o silenciamento de SmLSD1 por RNA de interferência (RNAi) em vermes adultos suprime a produção de ovos. Dada a importância da compreensão das bases moleculares do parasito para o estabelecimento e manutenção da infecção, este projeto busca entender a função da enzima SmLSD1 e os mecanismos de regulação da expressão pós-transcricional promovida por ela na fase larval intramamífero do verme, a fim de sugerir alvos terapêuticos mais específicos e elucidar formas de prevenção da infecção. Para isso, culturas de esquistossômulos serão monitoradas diariamente, por 7 dias, por microscopia para verificação de alterações fenotípicas decorrentes do silenciamento de Smlsd1. Durante este período, será realizada a análise dos níveis de transcritos de Smlsd1 por RT-qPCR. Após a confirmação do silenciamento, para a realização do ChIP-Seq, será feita a padronização dos anticorpos específicos, produzidos em coelhos e adquiridos comercialmente, por meio de ensaios de Western blot, buscando estudar as metilações nas histonas H3K4me1 e H3K4me2. Adicionalmente, será feita a verificação da presença de DNA contaminante por reação de PCR com iniciadores que amplificam o gene gapdh de coelho. Após a padronização dos anticorpos, será realizada a imunoprecipitação da cromatina. Na sequência, a cromatina imunoprecipitada será validada por ChIP-qPCR, buscando determinar se o DNA precipitado está enriquecido em sequências de DNA associadas à metilação alvo. Por fim, o DNA obtido será sequenciado na plataforma Illumina HiSeq 2500 e os dados serão analisados buscando desvendar os mecanismos de regulação da expressão pela enzima SmLSD1. Até o momento foi feita a reação de PCR convencional para a verificação da presença de DNA de coelho contaminante nos anticorpos H3K4me1 e H3K4me2. E, por meio da revelação no gel de agarose, não foi visualizada a presença de DNA contaminante. Por ensaios de Western blot, verificou-se que os anticorpos foram capazes de reconhecer os alvos H3K4me1 e H3K4me2 de forma específica. E, atualmente, está em andamento a fase de padronização do protocolo de imunoprecipitação da cromatina. Estão sendo testados diversos parâmetros, como: (1) a quantidade material necessária para as extrações; (2) método de lise dos parasitos; (3) diferentes temperaturas e tempos de digestão a fim de avaliar o melhor desempenho da digestão com a enzima MNase; e (4) métodos para a confirmação da extração da cromatina e padrão de digestão com a MNase.
Produção de soro policlonal e avaliação da expressão de proteínas estágio específicas de Leishmania spp.
Bolsista: SAMARA SILVA ANDRADE
Orientador(a): Osvaldo Pompilio de Melo Neto
Resumo: JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA Este subprojeto faz parte de um projeto que tem como objetivo maior estudar o processo de síntese de proteínas, ou tradução, nos tripanosomatídeos, protozoários flagelados causadores de diferentes enfermidades de impacto, como as leishmanioses [1]. Estes parasitas se destacam por apresentarem uma série de características únicas em processos ligados à sua expressão gênica e mecanismos de regulação [2]. O foco da pesquisa é o estudo de complexos do tipo eIF4F de iniciação da tradução. Em outros eucariotos o complexo eIF4F tem como função principal o reconhecimento dos mRNAs eucarióticos, e seu recrutamento para a tradução [3]. A equipe responsável pelo projeto atuou na descrição em “Leishmania” de múltiplos homólogos de subunidades deste complexo, formando um mínimo de cinco complexos e indicando uma complexidade na tradução não observada em outros organismos [4]. Contudo a participação destes complexos em eventos ligados a diferenciação celular nestes patógenos, críticos para sua sobrevivência em diferentes hospedeiros e condições ambientais e para sua patogenicidade, ainda precisa ser melhor investigada. Neste projeto, soros policlonais, proteínas recombinantes e inúmeras construções gênicas vêm sendo utilizados, associados a ferramentas bioquímicas e de biologia molecular de ponta. Diferentes espécies de Leishmania (como L. infantum, L. amazonensis, L. tarentolae e L. braziliensis) são alvos do estudo, tendo em vista seu impacto na saúde pública do Brasil. Contudo, para se investigar processos de diferenciação celular, são necessárias linhagens passíveis de serem cultivadas em diferentes formas de vida, cuja diferenciação precisa ser monitorada de acordo com o padrão de expressão de marcadores proteicos estágio-específicos. Entretanto, existe uma lacuna de ferramentas disponíveis para se avaliar a expressão desses marcadores, como soros policlonais específicos. Este subprojeto almeja então apoiar o esforço de produção de soros capazes de avaliar a expressão de marcadores proteicos estágios específicos em diferentes espécies de Leishmania. O foco desse trabalho serão as proteínas HASP, preferencialmente, e SHERP, de duas ou mais espécies de Leishmania. [5] OBJETIVOS Geral Produzir soro policlonal específico e avaliar a expressão em “Escherichia coli” de antígenos expressos de forma estágio específica em espécies distintas de “Leishmania”. Específicos a) Amplificar e clonar, em vetores plasmidiais de expressão, genes codificantes da proteína HASP e/ou SHERP de ao menos duas espécies distintas de “Leishmania”, “L. braziliensis” e “L. amazonensis”. b) Expressar e purificar as respectivas proteínas recombinantes em “Escherichia coli” e realizar a sua purificação por cromatografia de afinidade; b) Produzir soros em coelho contra as proteínas recombinantes; c) Purificar os anticorpos obtidos, verificar a sua especificidade e avaliar a expressão das respectivas proteínas em fases diferentes de cultivo de diferentes espécies de “Leishmania”. METODOLOGIA Os DNAs codificantes das proteínas de interesses serão amplificados e clonados em vetores de clonagem e expressão. Em seguida será feita a transformação e expressão das proteínas recombinantes em E. coli. Será realizada a produção em larga escala da proteína recombinante e depois a purificação proteica através de resina Ni-NTA Agarose (Qiagen). Em seguida serão obtidos soros policlonais através da imunização de coelhos e anticorpos específicos purificados por imunoadsorção. Por fim, os anticorpos serão utilizados em ensaios de western blot contra as proteínas recombinantes e/ou extratos de parasitas. REFERÊNCIAS [1] LUKEŠ, J. et al. Trends in Parasitology, v. 34, n. 6, p. 466–480, jun. 2018. [2] CLAYTON, C. Open Biology, v. 9, n. 6, 2019. [3] MERRICK, W. C. Journal of Biological Chemistry, v. 290, n. 40, p. 24091–24099, 2015. [4] FREIRE, E. et al. Pathogens, v. 6, n. 4, p. 55, 2017. [5] SÁDLOVÁ, J. et al. Cellular Microbiology, v. 12, n. 12, p. 1765–1779, dez. 2010.
Avaliação da capacidade reprodutiva, busca por fonte sanguínea e transmissão vertical em Culex quinquefasciatus, após exposição ao vírus Zika
Bolsista: CLAUDIA GABRIELLE SANTOS DE ABREU
Orientador(a): Mônica Maria Crespo Costa
Resumo: INTRODUÇÃO/JUSTIFICATIVA: os Arbovírus são um problema de saúde mundial, causando doenças que têm desencadeado complicações graves ao homem. A fragilidade no controle de seus vetores pode ter contribuído para a disseminação de arbovírus no Brasil, como o Zika (ZIKV), com consequências traduzidas no diagnóstico de microcefalia em recém-nascidos. Espécies de Aedes são as principais incriminadas na transmissão do ZIKV, mas outras podem ter papel secundário nesse processo, como o Culex quinquefasciatus, vetor de outros patógenos, predominante nas Américas e apontado como vetor potencial do ZIKV. A capacidade vetorial para transmitir um patógeno vai além da competência vetorial, que é intrínseca ao vetor, e a ela estão associados fatores ambientais, de comportamento e do desempenho biológico, que devem ser considerados nas investigações em diferentes contextos epidemiológicos, pois esses podem alterar a estimativa de ocorrência e dimensão de um surto. São escassos os estudos sobre a capacidade vetorial de Cx. quinquefasciatus em relação ao ZIKV, o que deixa lacunas no conhecimento sobre sua dinâmica de transmissão, sobretudo em Pernambuco, onde essa espécie apresenta alta antropofilia e abundância. Os resultados deste estudo poderão subsidiar gestores no controle populacional de espécies envolvidas na transmissão do ZIKV, contribuindo para saúde, especialmente da população residente em áreas com infraestrutura sanitária precária. OBJETIVOS: avaliar a capacidade reprodutiva, incluindo fecundidade e fertilidade, bem como a busca por fonte sanguínea e transmissão vertical de colônia de Cx. quinquefasciatus de laboratório (colônia CqSLab), após exposição ao ZIKV, em fêmeas expostas e em seus descendentes (geração F1). METODOLOGIA: o ZIKV é da linhagem ZIKV BRPE243/2015 e foi cedido pelo Laboratório de Virologia e Terapia Experimental (LAVITE) do IAM. A colônia CqSLab foi fundada em 2011, originou-se da Região Metropolitana do Recife e é mantida no insetário do Dept. de Entomologia do IAM, em condições ambientais controladas. A exposição dos mosquitos ao ZIKV, através de alimentação sanguínea artificial, é realizada no infectório do IAM, obedecendo-se as normas internacionais de biossegurança. Após a exposição, fêmeas de cada grupo são transferidas para gaiolas individuais, onde são colocados recipientes de postura para obtenção dos ovos. Estes são contados e colocados para eclosão das larvas, a fim de determinar a fecundidade e fertilidade. As larvas que eclodiram são contadas e colocadas em cubas de criação para a obtenção de mosquitos da geração subsequente (F1) e posterior avaliação da transmissão vertical, busca por fonte sanguínea, fecundidade e fertilidade desses descendentes. Ao final de cada etapa do experimento, as fêmeas são coletadas e armazenadas a -80°C, para extração de RNA e posterior confirmação da infecção por qRT-PCR. Na análise estatística, está sendo utilizado Teste t, com correção de Welch's. As conclusões são tomadas ao nível de significância de 5%. A apresentação das variáveis é feita por meio de gráficos e tabelas. RESULTADOS PRELIMINARES: os dados obtidos até o momento, mostram que a exposição ao ZIKV reduziu a fecundidade (p=0,0003) e fertilidade (p=0,0118) entre as fêmeas expostas, mas não entre aquelas da geração subseqüente (F1). Por outro lado, o percentual de busca por fonte sanguínea, em F1, foi significativamente menor (p< 0,0117) entre as descendentes de fêmeas expostas ao ZIKV, com relação às não expostas. Os resultados preliminares aqui apresentados ainda não são conclusivos, sendo necessário mais um ou dois experimentos para obtenção de resultados mais robustos. Este estudo poderá contribuir para a definição de métodos de controle populacionais mais eficazes, de modo a potencializar o provável custo biológico causado em Culex quinquefasciatus, pela exposição ao ZIKV.
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