Revista Eletrônica do Programa de Bolsas - Edição 1

Revista: Edição 1 | Ano: 2023 | Corpo Editorial: Editorial
As ciências biomédicas no Brasil (1850-1900): instituições e atores. Madame Durocher, uma parteira no Rio de Janeiro oitocentista
Bolsista: JULIO CESAR OLIVEIRA MATHEUS
Orientador(a): Maria Rachel de Gomensoro Fróes da Fonseca
Resumo: O Subprojeto As ciências biomédicas no Brasil (1850-1900): instituições e atores. Madame Durocher, uma parteira no Rio de Janeiro oitocentista busca recolher, sistematizar e analisar informações que possibilitem uma melhor compreensão e apreensão da trajetória dos principais espaços de formação, de prática e de socialização do conhecimento médico, e das trajetórias dos principais atores neste contexto. Marie Josephine Mathilde Durocher nasceu em Nancy, França, em 6 de janeiro de 1809, e faleceu no dia 25 de dezembro de 1893, aos 84 anos, na cidade do Rio de Janeiro. Desembarcando na cidade do Rio de Janeiro em 1816, formou-se aqui, tendo diplomado-se como parteira na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em 1834, sendo a primeira brasileira ali formada como parteira. Foi parteira da Casa Imperial, prestou serviços como parteira em sua residência e, também atuou em casas de saúde na cidade. Além da trajetória de Madame Durocher, neste sub-projeto serão pesquisadas a história de outros médicos e cientistas, de instituições de ensino, de pesquisa que constituirão verbetres específicos. Outras trajetórias e instituições que integram o sub-projeto: Manuel Mauricio Rebouças, Antonio Fernandes Figueira (1863-1928), Raymundo Nina Rodrigues, Miguel de Oliveira Couto, Miguel da Silva Pereira, Antonio Ferreira França, José Cardoso de Moura Brazil; Escola de Enfermagem, Parto e Farmácia, e a Escola Livre de Odontologia do Rio de Janeiro; Instituto de Higiene, Soroterapia e Veterinária, Instituto Biológico de Defesa Agrícola, Instituto Vacínico da Bahia, Instituto Vacínico de São Paulo, Instituto Pasteur do RJ, Instituto Pasteur de São Paulo; Santa Casa da Misericórdia de Belém, Santa Casa da Misericórdia de Porto Alegre, Policlínica de Niterói, Sociedade da Cruz Vermelha Brasileira.
Estudo in vitro da resistência de Trypanosoma cruzi ao benznidazol
Bolsista: Ana Luiza Barbosa Godart Cavalcante
Orientador(a): SOLANGE LISBOA DE CASTRO
Resumo: A doença de Chagas, também conhecida como tripanossomíase americana, é uma zoonose que tem como agente etiológico o protozoário hemoflagelado Trypanosoma cruzi (Chagas, 1909). O curso clínico desta enfermidade compreende duas fases distintas: aguda e crônica. A fase aguda é caracterizada pela alta parasitemia e inespecificidade dos sintomas, o que pode acarretar no tratamento inadequado e consequente evolução da doença para a fase crônica indeterminada, período em que os pacientes permanecem assintomáticos. Aproximadamente 30-40% dos pacientes progridem para a forma crônica sintomática, fase da doença definida pela redução da parasitemia e pelo desenvolvimento de manifestações clínicas cardíacas, digestivas ou ambas (Junior, 2017). A quimioterapia para a doença de Chagas consiste na administração de Benznidazol (Bz), um nitroimidazol que possui atividade tripanocida contra todas as formas evolutivas do parasito (Coura & Castro, 2002; Junior, 2017). O Bz é uma pró-droga que, para desempenhar seus efeitos citotóxicos, precisa ser ativada por enzimas denominadas nitroredutases. As nitroredutases podem ser divididas em dois grupos: o tipo I, uma proteína dependente de NAD(P)H caracterizada por ser oxigênio-insensível e catalisar a redução de dois elétrons do grupo nitro, levando à produção de metabólitos que promovem dano ao DNA; e o tipo II, que é sensível ao oxigênio e medeia a redução de um elétron do grupo nitro, gerando um radical nitro instável que, na presença de oxigênio, reage com essa molécula e produz superóxido (Wilkinson, 2011). Além das limitações que o fármaco apresenta, a existência de cepas de T. cruzi naturalmente resistentes ao Bz pode explicar as baixas taxas de cura da doença de Chagas (Filardi, 1987; Junior, 2017). Diferenças na suscetibilidade do parasito às drogas tripanocidas vêm sendo correlacionadas às DTUs (Toledo, 2003). A redução da atividade de nitroredutases, e consequente diminuição da metabolização de compostos nitro-heterocíclicos, é um dos mecanismos que vêm sendo propostos para a resistência aos fármacos (Wilkinson, 2008; Díaz-Viraqué, 2018). Diante de uma quimioterapia limitada, a combinação de fármacos surge como alternativa para contornar o problema de falha terapêutica. A associação de medicamentos com efeito sinérgico pode resultar em maior eficácia do tratamento, redução da resistência e dos efeitos colaterais (Trinconi, 2014). Nosso grupo tem focado no estudo de tratamentos alternativos para a doença de Chagas, em especial na atividade tripanocida de naftoquinonas e derivados. Compostos naftoimidazólicos N1, N2, N3 e N4 foram estudados e mostraram relação com a disfunção mitocondrial, levando à produção de ROS e morte dos parasitos in vitro (Menna-Barreto, 2009; Bombaça, 2021). A combinação de Bz a esses compostos pode ser estudada como uma estratégia para lidar com as limitações do atual tratamento. Apesar do Benznidazol ser o fármaco de escolha para a doença de Chagas, devido a sua alta toxicidade e taxa de cura limitada, a droga é considerada longe do ideal e sua prescrição ainda é controversa (Junior, 2017). A existência de cepas de T. cruzi naturalmente resistentes ao nitroderivado é um importante fator que pode explicar os diversos casos de falha terapêutica (Filardi, 1987; Junior, 2017). Diante desta problemática, compreender o que leva o parasito em determinados casos não responder ao Bz é importante para auxiliar no tratamento dos pacientes chagásicos. Nesse sentido, o presente trabalho tem como objetivo realizar um estudo in vitro da resistência e falha terapêutica de Bz, analisando a relação entre as seis DTUs e a suscetibilidade/resistência natural ao fármaco, o papel das nitroredutases na resistência do parasito e desenvolver ensaios de combinação de drogas com a finalidade de contornar a falha terapêutica.
Síntese e avaliação biológica de selenazóis análogos ao FAP, potenciais moléculas líderes na busca por novos agentes anticâncer.
Bolsista: ANA BEATRIZ CALLEGARIO AMORIM
Orientador(a): VICTOR FACCHINETTI LUZ
Resumo: O câncer é uma doença complexa que varia extensivamente na forma como se apresenta, no seu desenvolvimento e nos sintomas de um paciente para outro. As estatísticas nacionais e internacionais não deixam dúvidas e servem de alerta para o grave problema de saúde pública mundial que representa essa doença. O câncer é a principal causa de mortes em países desenvolvidos e ocupa o segundo lugar nas taxas de mortalidade dos países em desenvolvimento. Apenas no Brasil, são estimados aproximadamente 630 mil novos casos da doença para o ano de 2018. Recentemente, moléculas bioativas e fármacos capazes de inibir de forma específica proteínas-alvo presentes em diversas linhagens de células cancerosas vem sendo desenvolvidos através de modificações racionais no esqueleto 2-fenilaminopirimidina (FAP), grupo farmacofórico presente no imatinibe, primeiro inibidor de tirosina quinase aprovado para uso clínico pelo FDA, em 2001. Nesse contexto, análogos do FAP contendo grupos heterocíclicos vem sendo reportados na literatura, incluindo derivados 2-fenilaminotiazólicos, que apresentaram resultados relevantes como inibidores de enzimas tirosina quinase. Dessa forma, propõe-se a síntese de uma série de derivados 2-fenilaminoselenazólicos, obtidos a partir da troca isostérica do núcleo pirimidínico do FAP pelo núcleo selenazólico, visando a identificação de novas moléculas líderes capazes de orientar o desenvolvimento racional de fármacos no combate ao câncer. As selenouréias substituídas, intermediários-chave do projeto, poderão ser sintetizadas a partir da reação da 2-metil-5-nitroanilina, obtida comercialmente, com o isoselenocianato de benzoíla, obtido in situ, seguida de hidrólise básica. Os produtos finais desejados serão obtidos, então, a partir de reações de Hantzch entre as selenouréias substituidas e diversas 2-bromoacetofenonas.
O potencial terapêutico do transplante de mitocôndrias isoladas de células-tronco mesenquimais em células endoteliais estimuladas com heme e hemozoína, em modelo in vitro de malária.
Bolsista: PATRICIA DE MATOS DE MOURA
Orientador(a): TATIANA MARON GUTIERREZ
Resumo: A malária é uma doença infecciosa causada por protozoários do gênero Plasmodium, que afeta principalmente regiões carentes do mundo e pode evoluir para formas graves, incluindo a malária cerebral (MC). Durante a infecção, o parasita invade as hemácias do hospedeiro e provoca uma resposta inflamatória, que leva à produção de espécies reativas de oxigênio e nitrogênio. A presença de heme e hemozoína, produtos da digestão da hemoglobina, contribui para o estresse oxidativo intravascular e pode resultar em alterações neurológicas, incluindo danos às mitocôndrias. É importante ressaltar que existem tratamentos para malária, como o uso de anti-maláricos mas ainda não existem tratamentos para as sequelas e danos decorrentes da MC. Nesse contexto temos as células-tronco mesenquimais (CTMs), que são células multipotentes com a capacidade de autorrenovação e diferenciação. Elas possuem efeito imunomodulador, e suas mitocôndrias têm um papel importante na sinalização e diferenciação celular. Estudos mostram que a transferência de mitocôndrias de CTMs pode restaurar a respiração celular e modular o metabolismo oxidativo. Desse modo, o transplante de mitocôndrias derivadas de CTMs pode ser uma forma de atenuar o estresse oxidativo nas células endoteliais danificadas pela infecção da MC.
AVALIAÇÃO DA EXPRESSÃO DA MOLÉCULA HLA-G NAS PLACENTAS DE MULHERES COM COVID-19 E PRÉ-ECLÂMPSIA
Bolsista: DEBORA RAYANE DE ARRUDA
Orientador(a): Norma Lucena Cavalcanti Licinio da Silva
Resumo: O HLA-G é uma molécula de histocompatibilidade de classe I, não clássica, com atividades imunomoduladoras, com efeito inibitório sobre diferentes vias relacionadas à reposta imune inata e adaptativa, encontrada pela primeira vez em citotrofoblastos extravilosos em 1990, exercendo inibição sobre o sistema imunológico da mãe, assegurando a manutenção da gravidez. Alterações nas funções inibitórias do HLA-G são encontradas em algumas condições patológicas, como na pré-eclâmpsia, na eclâmpsia, em abortos de repetição, em infecções, neoplasias e doenças autoimune. Ao se ligar diretamente aos receptores de superfície de células imunes, o HLA-G pode inibir a proliferação de células T, células NK e células B, citocinas anti-inflamatórias, produção de imunoglobulina, ativação de MICA/NKG2D ou senescência celular. A expressão de HLA-G pode ser regulada positivamente por vários vírus, incluindo SARS-CoV-2, podendo favorecer a evasão imune do vírus e a progressão da doença. As modificações no sistema imunológico materno necessárias para hospedar o feto semi-alogênico aumentam o risco de infecção grave por SARS-CoV-2 na gravidez. A proteína spike do SARS-CoV-2 se liga ao receptor da enzima conversora de angiotensina 2 (ACE2) nas células do trato respiratório, interiorizando o vírus, promovendo o dano celular e quadro grave de inflamação, com risco de vida para o doente. O receptor ACE também é encontrado na face materna da placenta. Há uma atenuação geral do sistema imunológico da gestante e elevação da enzima conversora de angiotensina 2 (ACE2) na circulação materna, aumentando a suscetibilidade das gestantes ao SARS-CoV-2. Além disso, o efeito imunomodulador do HLA-G na gravidez pode ter implicações adicionais diante da infecção por SARS-CoV-2. Outrossim, o padrão de lesões placentárias decorrentes da COVID-19 corresponde à arteriopatia decidual: o vírus invade o organismo através do receptor ACE2, alterando o sistema renina-angiotensina-aldosterona, levando à vasoconstricção. O estado inflamatório sistêmico ou hipercoagulável também pode influenciar as alterações funcionais da placenta e sofrimento fetal. Ademais, a expressão diminuída de HLA-G é determinada geneticamente e está associada ao desenvolvimento de pré-eclâmpsia. Este subprojeto é um desdobramento do projeto “Contribuição de moléculas/genes de histocompatibilidade, receptores, citocinas e fatores pós-transcricionais na patogênese e evolução da infecção por Coronavírus (SARS-CoV-2) em gestantes e recém-nascidos”, que tem como objetivo avaliar a expressão da molécula HLA-G e do receptor ACE2 associada à resposta imune em gestantes com COVID-19 com e sem pré-eclâmpsia. Foram processadas 150 placentas de gestantes com COVID-19, das quais 58 apresentaram alteração macroscópica da placenta, e ainda 58 placentas de gestantes sem COVID-19 cujas placentas não apresentaram alterações macroscópicas. Essas placentas foram blocadas, e cortes de tecidos foram realizados para estudos de imuno-histoquímicas. A padronização da imunofluorescência para os anticorpos anti-ACE2 monoclonal de coelho e anti-Spike monoclonal de camundongo foi realizada para avaliar a sensibilidade entre a ligação do anticorpo primário com os fragmentos das placentas, testes com dupla marcação está em andamento. A imuno-histoquímica de HLA-G já está padronizada no nosso laboratório. Desse modo, as imuno-histoquímicas para ACE2, Spike e HLA-G nas diferentes amostras serão realizadas nesse próximo período de bolsa, quando poderemos quantificar a expressão de cada biomarcador em 150 placentas de pacientes que testaram positivo para a COVID-19 (grupo de estudo) e 58 de pacientes que testaram negativo para a COVID-19 (grupo controle), visando associar alterações na expressão desses biomarcadores com a presença e gravidade da COVID-19 associada ou não a pré-eclâmpsia. Apoio: FIOCRUZ, CNPq, FACEPE, IMIP, UFPE.
Triagem de compostos e fármacos capazes de inibir proteínas envolvidas no metabolismo lipídico humano contra Dengue virus
Bolsista: TIAGO MARTINS MARQUES
Orientador(a): CARLOS EDUARDO CALZAVARA SILVA
Resumo: Até o momento não existe um tratamento específico para a dengue, sendo este apenas paliativo. Assim, estudos que busquem alvos para o desenvolvimento ou reposicionamento de fármacos, visando uma terapia específica, são essenciais. Durante a replicação do Dengue virus (DENV) as vias de lipofagia são ativadas e, com isso, triglicérides armazenados em corpúsculos lipídicos são degradados e ácidos graxos são liberados, promovendo, através da ?-oxidação, a geração de ATP necessário para completar a multiplicação viral. Por esse motivo tais vias metabólicas devem ser exploradas como potencial alvo para o desenvolvimento de estratégias antivirais. Nosso grupo de pesquisa realizou análises transcriptômicas de hepatócitos infectados com DENV-2. Essas análises revelaram genes diferencialmente expressos que são descritos como participantes de processos biológicos envolvidos no metabolismo lipídico. Dentre esses genes foi identificado o receptor adrenérgico alfa 1 (ADRA1). ADRA1A são receptores que atuam na mediação do sistema nervoso simpático envolvidos na regulação da lipofagia e na estimulação da ?-oxidação de ácidos graxos. Devido ao exposto esse trabalho pretende avaliar a relação do ADRA1A na replicação do DENV utilizando antagonistas desse receptor, com o objetivo de validar o ADRA1A como potencial alvo para terapia específica contra a dengue e identificar fármacos candidatos ao reposicionamento. Antagonistas de ADRA1A serão identificados na plataforma DRUGBANK e serão selecionados aqueles aprovados para uso em humanos e comercializados no Brasil. Após, o CC50, IC50 sobre as partículas virais e o IS serão determinados. Para o CC50, células AML12 e Vero serão expostas a diferentes concentrações de cada antagonista e a viabilidade celular será avaliada por MTT. Para o IC50, células serão infectadas com DENV seguidas de exposição a distintas concentrações dos antagonistas seguido de titulação viral por RT-qPCR, e determinação do IS. Depois, o efeito dos antagonistas sobre a replicação do DENV será avaliado quando adicionados às culturas celulares antes e após a infecção com o DENV e em dose única ou diária. Após cinco dias será realizada a titulação viral por RT-qPCR e por unidades formadoras de placas (UFP) e avaliação da viabilidade por MTT. Ainda, será realizada a quantificação de ácidos graxos livres, corpúsculos lipídicos e de ADRA1A em AML12 infectadas com o DENV e expostas aos antagonistas. Posteriormente, camundongos serão infectados com DENV e tratados com o antagonista selecionado nos ensaios in vitro. Após cinco e onze dias de tratamento será feita coleta de sangue para análises hematológicas, titulação viral por RT-qPCR e ELISA para investigar os níveis de IgM e IgG anti-DENV. Ainda, após onze dias o fígado e rins serão removidos para titulação viral por RT-qPCR e análises histológicas. Devido a pandemia de COVID-19 o trabalho os alunos de Iniciação Científica estavam impossibilitados de comparecer na instituição e, portanto, de realizar atividades presencias. Sendo assim, nos meses iniciais dessa bolsa, foram realizadas atividades de treinamentos virtuais de biossegurança e boas práticas de laboratório, além de reuniões virtuais do grupo de pesquisa. Também, durante o regime remoto, foi realizada revisão bibliográfica. Com o retorno presencial foram realizados treinamento de preparo de meio e soluções, cultivo celular, multiplicação e titulação do DENV e, até o momento, foram estabelecidas culturas das linhagens C6/36, Vero e AML12 que serão usadas nos ensaios futuros.
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